quarta-feira, 3 de julho de 2013

ARTES VISUAIS - INSTITUTO PROF - PARAISÓPOLIS de 05/03/2013 a 26/06/2013




Começamos fazendo desenho livre, com objetivo de investigar as potencialidades expressivas e as possibilidades materiais e suas técnicas. Nesse processo desenvolvemos vários exercícios, desenho de observação, imaginação e memória. Essas propostas apresentaram algumas questões pertinentes ao fazer.
Na proposta de desenho de observação notei que a transferência da imagem vista não se dava pela observação, o objeto que estava ao centro, referência a ser observado, foi transferido para o papel de forma codificada, signo. Já no exercício do desenho de memória apareciam somente imagens de paisagens, como casinhas, nuvens e lago. No exercício de imaginação as mesmas imagens retornam sem diferenciação. Durante essas ações foi possível constatar no desenho de alguns, o repertorio da indústria cultural. Signos aparecem freqüentemente, repetidos até a exaustão.


A resistência para com o desenho a principio era bem evidente, os adolescentes demonstravam grande dificuldade para aceitarem a proposta. Alguns exercícios eram aceitos com bastante oposição por acharem “nada a ver” o que estava sendo sugerido. No começo foi difícil dialogar com a proposta planejada, a maior dificuldade foi criar um espaço de respeito, escuta e comprometimento para com o fazer artístico.
O “não sei desenhar” permeou nos primeiros encontros. A frustração por não alcançar um determinado resultado deixava os educandos nervosos a ponto de rasgar o que foi construído.
Contudo o embate com a proposta oscilava, às vezes intensa outra hora calma, quando indagava os educando e apresentava novas possibilidades diferentes das do repertório de cada um, o atrito acontecia. Isso foi bom! A partir destes atritos surgiram algumas brechas onde eu consegui me inserir e firmar enquanto educador que propõe e questiona acerca do que está sendo apresentado.
Penso que este estranhamento é comum, pois um novo professor chega com propostas novas e fazeres diferentes, a reação é essa (o território sendo ocupado), o choque, a não aceitação de uma nova linguagem (Desenho e Pintura). A impressão que tive foi de confronto do início ao fim. Uma batalha.

Numa exibição do filme do artista plástico Pablo Picasso (Os Mistérios de Picasso) que levei para dialogar com a proposta do dia “Desenho Gestual”, alguns educandos não compreenderam o trabalho que o artista estava fazendo e questionaram. “Não é bonito isso professor, então não é arte”- indaguei perguntando: “Só o belo é Arte? O que é belo, o que é feio, o feio pode ser belo? O diálogo iniciado a partir da exibição do vídeo provocou e apresentou outras opiniões a respeito do assunto (arte). Ao mesmo tempo em que um educando defendia que só o belo era arte, outro com uma opinião contrária dizia que gostava do que o artista estava fazendo, e retrucou dizendo que por mais que fossem feios os “rabiscos” o trabalho em si é arte, é uma expressão.
Esse e outros diálogos foram importantes na reflexão acerca da pintura, desmistificar a ideia do belo (das referencias dos livros escolares) conhecer outras referencias, entender que arte independente da estética apresenta diversas linguagens, estilos e movimentos. O vídeo propiciou a argumentação critica e reflexiva sobre o trabalho do artista. Uma obra pode ter múltiplas interpretações, sem que uma seja melhor ou pior que a outra.
No planejamento foquei exatamente essas questões: atrair os jovens para novas linguagens utilizando referencias visuais para facilitar a compreensão e aproximar do conteúdo proposto. Nos encontros que se deram apreciamos filmes e livros de artistas.
Todos estes recursos foram muito importantes no desenvolvimento das atividades e na formação de repertório cultural dos educandos.

Devido à resposta que obtive dos primeiros encontros, foi preciso uma mudança no planejamento. A técnica, um dos procedimentos que coloquei como ponto de partida, foi para o segundo plano. Compreendi algo que a principio não estava planejado: lidar com as instantaneidades dos fazeres e pensar numa atividade que proporcionasse a concentração e disciplina. Estas duas questões foram norteadoras para o desenvolvimento das propostas nas oficinas seguintes.
Como pensar numa atividade que mostrasse aos educandos outras formas de desenhar e pintar?
A proposta da utilização do corpo como objeto e referência de estudo e tradução gráfica, surgiu no momento em que os desenhos estavam perdendo força em direção a formas repetitivas. Nesse momento, o formato do papel ganhou importância na construção dos trabalhos.
Foi no desenho do corpo que os educandos conseguiram se empenhar ao máximo e se colocar como criador. Foi notável a empolgação de todos, nesse momento as atividades ganharam força e apresentaram novas formas. A resistência ficou no passado, todos desenharam. O papel Kraft com a dimensão ampla proporcionou novas possibilidades a experiência.

Os educandos quando viram o tamanho do papel se surpreenderam, “ mas professor não vamos conseguir terminar esse trabalho hoje” – Prof: “Não mesmo, daremos continuidade na próxima aula, e assim sucessivamente”.
Retomar o trabalho em cada aula não foi tarefa fácil, pois a cada encontro os educandos achavam que íamos fazer outra atividade. Observar o processo anterior, trocar impressões e dar continuidade no mesmo foi um ritual que durou 7 etapas. Nesse processo todo notei uma mudança positiva no comportamento de alguns que a principio não queriam fazer as oficinas. Thiago, Maicon, Wesley e Matheus são um bom exemplo que cito nesse processo, pois os mesmos, em cada encontro, chegavam empolgados para dar continuidade no trabalho. O formato do papel, e a tinta atraíram os educandos para dentro do trabalho, era como se eles entrassem em estado de êxtase, a concentração transbordava, foi incrível observar essa mudança. O desenhou teve outro significado. As formas surgiram juntamente com os contrastes. As linhas sobrepostas, a cor, as pinceladas gestuais, o campo preenchido com pinceladas e com a própria mão. A técnica acontecendo e surgindo no momento certo, pois cada um soube fazer seu trabalho utilizando diversos recursos descobertos no processo.

Algo muito bacana aconteceu após esses encontros. Notei uma empolgação vinda do grupo, uma pergunta dos educando surgiu em todo inicio de oficina: O que vamos fazer hoje professor? Essa pergunta apareceu após termos criado o ritual de chegar e dar continuidade no trabalho. Parecia que eu estava pela primeira fez com o grupo, e a curiosidade instiga o mesmo a investigar qual é o processo do dia. Cada oficina é uma caixinha de surpresas. E a surpresa traz consigo novas experiências. Lembro do dia que fizemos tinta com ovos. Foi uma descoberta surpreendente, quando eles souberam que clara e pigmento viraria tinta quando misturados (têmpera). Aconteceu o mesmo na oficina de stencil, utilizar o spray na pintura de um molde vazado, possibilitando a reprodução de várias imagens. Tudo isso, aos olhos dos educandos, foi uma grande novidade.


Foi incrível vivenciar todo esse processo, acompanhar as pequenas mudanças, e compreender que a construção de um ambiente artístico se dá através do respeito, da disciplina e da experiência em várias linguagens. Foi a maior descoberta e aprendizado, tanto para mim, quanto para os educandos. Criamos uma teia com várias experiências, onde as diversas linguagens tiveram uma importância muito grande no fazer de cada um.

A experiência direta com a arte aconteceu juntamente com o fazer artístico. Expressamos-nos de várias formas. Contudo, acredito que as vivências apresentadas aos educandos, despertaram a curiosidade e a vontade de criar continuamente. Cada encontro propiciou o fazer individual e coletivo. O embate com o material resultou em diversos processos que não se esgotaram.

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