Arte e Técnica



Ars, artis, palavra latina da qual da qual a nossa arte derivou, corresponde ao grego tékné, que significa todo e qualquer meio apto à obtenção de determinado fim, e que é o que se contém na idéia genérica de arte. Quanto a poésis, de significado semelhante a tékne, aplica-a Aristóteles, de modo especial, para designar a poesia e também a arte, na acepção estrita do termo.
Pareyson nos diz que há três definições tradicionais da arte: a arte como fazer, como conhecer ou como exprimir. Na antiguidade, prevaleceu a primeira, a arte foi entendida
como tekné. Mas o pensamento antigo pouco se preocupou com teorizar a distinção entre
a arte propriamente dita e o oficio da técnica do artesão.
A arte, enquanto processo produtivo, formador, que pressupõe aquilo que ordinariamente chamamos de técnica, e enquanto atividade prática, que encontra na criação de uma obra o seu termo final é poésis.

Poiesis é produção, fabricação criação. Há nessa palavra uma densidade metafísica e
cosmológica que precisamos ter em vista. Significa um produzir que dá forma, um
fabricar que engendra, uma criação que organiza, ordena e instaura uma realidade
nova, um ser. Criação não deve ser entendida no sentido hebraico de fazer algo do nada,
mas na acepção grega de gerar e produzir dando forma à matéria bruta preexistente,
ainda indeterminada, em estado de mera potência.
A distinção entre estética e poética é particularmente importante e representa uma
precaução metodológica cuja negligência conduz a resultados lamentáveis. Se nos
lembrarmos que a estética tem um caráter programático e especulativo enquanto que a
poéticas, pelo contrário, tem um caráter programático e operativo.
Valéry busca encontrar uma “lógica da imaginação” que escapa do mito da produção
inconsciente do artista: “Mas o trabalho do artista, mesmo na sua parte mental, não pode
se reduzir às operações de um pensamento determinante. De uma parte a matéria, os
meios, o instante, e uma porção de acidentes (os quais caracterizam o real, ao menos
para aquele que não é filósofo) introduzem na fabricação de uma obra uma quantidade de
condições que não somente introduzem o imprevisto e o indeterminado no drama da
criação, como tendem a torná-la racionalmente inconcebível, uma vez que a inserem no
domínio das coisas, pois ela se torna uma coisa, de modo que o pensamento se torna
sensível.(...) O artista não pode abrir mão de um sentimento arbitrário. Ele procede do
arbitrário em direção à uma necessidade, e de uma certa desordem em direção a uma
certa ordem...” Paul Valery,1306
Pelo fato de serem construídas, as imagens surgem a partir de seu meio material. A
matéria define os meios de apresentação das imagens. Estamos longe de uma
concepção da técnica como algo transparente e neutro.
Na maioria dos casos, as matérias chegam ao artista marcadas por uma longa tradição de
manipulação artística e, por isso mesmo, tão exigentes, a ponto de parecerem impor-se
por si mesmas às intenções formativas e arrastá-las na própria direção. As tecnicas
fornecem soluções gerais e formulas, enquanto que a arte não existe independentemente
de um objecto material realizado, com existência concreta.
A principio rejeitando a técnica, o artista assimilou criadoramente o seu processo
operatório, e aproveitou-o, como acentua Pierre Francastel para, elaborando novos
esquemas imaginativos, obter “uma nova apreensão do mundo exterior”



Trechos retirados dos seguintes livros

FRANCASTEL, Pierre. Imagem Visão Imaginação. São Paulo: Martins Fontes. 1983.
MUMFORD, Lewis: Arte E Técnica. São Paulo. Martins Fontes.1986
NUNES, Benedito.Introdução à Filosofia da Arte. São Paulo. Ática. 1991.
PAREYSON, Luigi. Estética – Teoria da formatividade. Petrópolis: Vozes, 1993.
PAREYSON, Luigi. Os Problemas Da Estética. São Paulo: Martins Fontes. 1997
VALÉRY, Paul. Introdução ao Método de Leonardo da Vince. In: Variedades. São Paulo
.Iluminuras. 1999

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